Na imagem: Aninha lendo o livro "Leo e a baleia"
A ação de ler literatura constantemente é o que possibilita o crescimento intelectual de uma pessoa. De fato, esse ato construído socialmente é um caminho que leva o ser humano a se emancipar, porém a prática de leitura só será qualitativa quando ela nos provocar a pensar e a questionar nossa realidade a partir do fenômeno explorado pela leitura. Igualmente, não lemos apenas textos escritos, lemos o mundo por inteiro. Essa habilidade de fazer o uso do conhecimento para criticar, produzir e se inserir em determinados conjuntos de práticas sociais pode e deve ser estimulada e explorada desde cedo no ambiente familiar e escolar, criando pontes para que o indivíduo tenha compreensão do que se lê e para quê se lê.
Essencialmente, o gosto pela leitura começa desde cedo. A criança em sua primeira infância é marcada pelo tatear e experimentar, dando sentido ao que se experencia e aprendendo pelo exemplo. Dessa forma, é preciso que haja uma continuação desse gosto de explorar os objetos a sua volta. Para isso, o contato com a literatura se faz importante quando é apresentada como um objeto de prazer mediante que “a leitura deve ser encarada como um jogo, uma atividade lúdica que exige o engajamento cognitivo” (KLEIMAN; MORAES, 1999, p. 129). O primeiro contato com o livro deve ser permeado pela ação prazerosa de lê-lo que leva o indivíduo a viajar, imaginar, conhecer outros mundos, outras culturas e não apenas ficar na moralização e razão como fazia os primeiros livros destinados a infância no século XVIII que eram tirados de contos populares e transformados em narrativas para crianças.
O aparecimento da literatura infantil a partir do século XIX foi decorrente também do reconhecimento da particularidade da infância. Os escritos eram com cunho para formação de adultos, com caráter moralista e paternalista, disciplinada nos moldes da Igreja, pregando a obediência e submissão. No Brasil, a partir da década de 70, começa a ser substituída essa concepção, juntamente com a literatura juvenil. A literatura infanto juvenil é extensa e de suma importância para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo do ser humano, pois, segundo Abramovich (2007), ao ouvir histórias, a criança passa a visualizar de forma mais clara os sentimentos que tem em relação ao mundo que a rodeia.
Assim sendo, os livros para crianças e adolescentes estão enquadrados dentro da literatura infanto juvenil, que tem o objetivo de atender a demanda do seu público alvo com temas, estética e finalidades diferenciados. Para cada período, a organização da literatura será adaptada, passando de decodificação de signos linguísticos a textos complexos que desafia o pensar. Nesse sentido, a escola desempenha um papel importante na formação de cidadãos apresentando a literatura desde cedo e correlacionando com a realidade dos seus educandos, ajudando a desmistificar alguns estereótipos impregnados na sociedade sobre os grupos majoritariamente excluídos.
Tais estereótipos dizem respeito, por exemplo, a como cultura africana é tratada na literatura. Monteiro Lobato fora muito criticado por tratar o negro inferiorizado, sem cultura em suas obras literárias infantis. No entanto, o equívoco das críticas é atribuir juízo de valor moderno a uma época passada em que a constituição da sociedade tinha seus próprios pensamentos. Felizmente, o campo da literatura vem avançando quanto às questões étnico-raciais, sobretudo a partir da aprovação da Lei n. 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares Nacionais que institui a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar da Educação Básica que contribuiu para haver no campo da educação livros destinados a valorizar o reconhecimento identitário da cultura afro-brasileira.
Partindo desse pressuposto, a literatura se torna uma ferramenta essencial para a alfabetização e letramento da criança, uma vez que através de metodologias do uso dos livros infantis poderá desenvolver a capacidade de aprendizagem de leitura e escrita, realizando leituras do cotidiano para que a criança se sinta participante do processo. Salienta-se a necessidade de transportar a outros mundos por meio da literatura, pois seu principal objetivo é a arte de transportar-se no pensamento através da palavra. Daí a necessidade de organização e planejamento docente para apresentar de forma criativa livros que venham a somar para aguçar a curiosidade pela literatura. Todavia, a família se faz salutar nesse processo, dado que o acompanhamento familiar ajuda no entender da criança sobre a importância do que ela está lendo, posto que a família e escola são as instituições bases a formação do desenvolvimento humano.
A literatura infanto juvenil não se restringe apenas a atingir as habilidades de leitura ou conhecimento das normas literárias. Como ferramenta pedagógica, possibilita a ação educativa de educar para a sociedade. Na literatura juvenil, os jovens encontram conforto em alguns temas considerados “inapropriados” para adolescentes, são tratados de forma a superar as dificuldades as quais estão se passando. Por isso que os livros juvenis são construídos mediante a fantasia e realidade com personagens fictícios bem próximos aos seus leitores.
Assim, é evidente a importância da literatura na construção do pensamento, do intelecto, do conhecimento e das sensações humanas. No entanto, é importante enfatizar que essas construções só serão possíveis se o contato com a literatura for prazerosa. Desse modo, tanto o espaço familiar e escolar se constitui como instituições privilegiadas para que essa ação aconteça, mediados pelo exemplo e ações pedagógicas.
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